quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sobre Uma Certa Noção de Tradução

A tradução, apesar de ser um ofício muito antigo, pode levar a diversos debates. Muitos argumentam que a tradução deve ser livre de marcas do tradutor. Que dever ser somente uma forma de transmitir ao leitor as ideias e essência do autor. No entanto, eu vejo de outra forma. Acredito que, tanto o texto original, como o traduzido, são completamente compreendidos e formados com a leitura de cada indivíduo.

Não estou pregando que o texto seja totalmente reformulado, ou que o tradutor tente ser o mais fiel e literal possível em suas traduções, mas que a tradução seja o produto de um processo equilibrado entre as escolhas do tradutor para fazer o texto fluir, porém, ainda assim, transparecendo quem o autor realmente é.

O texto traduzido nunca é só uma tradução. É um novo texto com novas características e suas peculiaridades. É o produto de duas pessoas parecidas, diferentes ou muito distintas. As experiências que o autor vivenciou podem não ser as mesmas do tradutor. Concordo com o autor do texto Uma Certa Noção de Tradução; pois, para os leitores de um texto traduzido o texto somente existe com a tradução.

A inversão proposta por Edwin Gentzler é válida e interessante. Com o grande número de traduções de obras clássicas e mesmo das mais modernas, o fato de a identidade sempre mudar de uma tradução para outra é um tanto quanto curioso. Consigo entender mais ou menos essa ideia como um espelho que reflete uma imagem a sua frente ou talvez como as pessoas me vêem. Dependendo da hora do dia que se olhar uma determinada coisa no espelho, pode-se ver alguns aspectos mais evidentes, bonitos, interessantes, chatos etc. Provavelmente, não será possível vê-los todos de uma vez só, pois, a luz influencia no que será refletido. Tento entender esse conceito usando a ideia de me ver como uma pessoa de fora, talvez algum familiar, amigo ou um desconhecido. Cada uma dessas pessoas me “lê” de uma forma diferente, vê-me de uma forma única, e, ao mesmo tempo, com aspectos em comum. Algumas características da minha personalidade, meu caráter vão se sobressair e formar uma base uniforme e original que permite que, em certo patamar, as pessoas enxerguem a minha essência, o meu eu.

Eu, quando ainda não tinha domínio do inglês, lia livros traduzidos em grande parte. Entretanto, quando passei a gostar e sentir-me confortável com a língua, preferi ler os livros em seu idioma original. Lembro-me de ler Os Sofrimentos do Jovem Werther de Goethe e me sentia completamente dentro do texto, como se Goethe estivesse falando comigo em português. Ainda não aprendi alemão para ler os livros que eu quero, mas acredito que o texto para mim somente existiu com a tradução. Apesar de muitas das traduções de livros famosos serem boas, sinto a necessidade de ler, sempre que possível, um livro na língua original, pois me parece que estou tendo um diálogo frente a frente com o autor. Creio que, no entanto, sou um tipo de leitora diferente. Estou cursando nível superior, estudo outras línguas e estou ciente que a tradução pode ou não fazer parte da leitura final e completa em si de um texto. Acho que nunca vou conseguir ter uma opinião absoluta sobre as diversas teorias da tradução. Quando aceito uma, surge outra.

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